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Acredito no poder das palavras... Acredito também, que podemos mudar o mundo. Palavra por palavra.
Chovia. Mansamente. Era verão e a noite sem vento estava calma. E chovia.
Ela escutava a música única de cada gota a desfazer-se nas várias superfícies. Sentiu uma brisa, fresca, mas sem força suficiente para agitar as folhas das poucas árvores à sua volta. Um carro solitário cruzava a estrada deserta, o som despertando-a do seu transe momentâneo. Felizmente, caso contrário não teria se apercebido da luz que piscava em cima da cama. Segurou o telemóvel numa mão e ficou parada observando o nome que via no ecrã. Que quereria? A esta hora?
Atendeu. Escutou. E esperou.
Regressou à janela. O pensamento viajando novamente. Despertou quando sentiu algo agarrando a mão que, sem se aperceber, tinha estendido para sentir a chuva. Abriu os olhos. E viu o brilho do olhar que lhe foi devolvido.
E o seu corpo moveu-se sozinho. Quando deu por si, já se encontrava do lado de fora, a roupa colada ao corpo e os cabelos à cara. Porém, parecia que tinha sido transportada para um mundo onde o normal era estar assim. Sentia-se viva. Tremia, mas não tinha frio.
Deixou-se levar. Braços protectores envolveram-na. E parou de tremer. Sentiu-se voar.
Ergueu os olhos e olhou para aquele rosto. Conforto. Viu os lábios moverem-se, mas não ouviu palavra alguma. No entanto, respondeu. E o sorriso que obteve como resposta fê-la sorrir.
Passos anunciaram a aproximação de um grupo de pessoas. Alegres, elas cantavam e falavam alto. Passaram por eles. Duas almas perdidas uma na outra. Perdidas num mundo só seu, mal se apercebiam do que se passava à sua volta.
E, abençoados pela chuva, calma e cantante, numa noite quente de verão, dois corações palpitavam, e duas almas tornavam-se numa só.
Perly Ramos
24/08/2011