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Acredito no poder das palavras... Acredito também, que podemos mudar o mundo. Palavra por palavra.
foipoema
foipoema aquilo que comecei
A primeira palavra
Do primeiro verso
foipoema
O que eu sonhei
E as rimas que coleccionei
foipoema
A noite, o momento
E a inspiração
foipoema
A canção, a dança
E o beijo
foipoema
Os murmúrios que trocámos
O teu abraço
E o meu suspiro
foipoema?
As estrelas e as ondas?
foipoema?
A brisa e as vozes?
foipoema!
Perly Ramos
9/10/2012
É uma fina linha
A corda que liga uma montanha à outra
E o verde Éden do outro lado
Tentando e atraindo
O caminhante despercebido
Que aceita o desafio
E vê-se em equilíbrio precário
Arriscando uma queda livre no abismo
O caminhante atravessa, mas
A meio caminho a corda parte-se
Água e rocha envolvem-no
Num turbilhão de imagens e sons
E a voz distante chama
Apenas para ser ignorada
Na margem, ainda desorientado
O caminhante, agora náufrago,
Desenterra o cofre do pirata
E nele guarda o mesmo tesouro
Que uma vez foi roubado por Calipso.
Perly Ramos
02/02/2012
O que dizem os teus olhos?
Que segredos escondem estes dois cristais?
Quantas alegrias escondes por detrás
Destas cortinas escuras?
O que dizem os teus olhos?
São segredos que nunca encontro e
Nem papiro nem pergaminho ousam revelar.
Que lembranças estão guardadas
No cofre da tua memória?
O que dizem os teus olhos?
Fecha os olhos e conta-me,
Pois os meus são os únicos ouvidos da noite.
Chega-te ao pé de mim
E sussurra.
O que dizem os teus olhos?
Que esfinge fez de ti pupilo?
E porque, enigmáticos, escondem de mim
Alegrias e tristezas tuas?
O que dizem os teus olhos?
Conta-me, conta-me enquanto envolvo-te
Na segurança de um abraço.
O que dizem os teus olhos?
Porque contradizem o sorriso
Que te enfeita o rosto?
Vem. Vem enquanto a noite ainda é segura
Fala baixo, murmura
Mas vem
E conta-me
O que dizem os teus olhos?
Perly Ramos
11/04/2012
A folha em branco, o meu maior medo
Ela olha-me sarcástica
Zomba e faz pouco de mim
E fica à espera…
Quer sentir a tinta
Percorrendo-lhe o corpo pálido, dando vida
À sua inexistência, à sua indiferença
Escondo-me dela,
Pouso a ponta da caneta… paro
Volto a suspender a mão…
Uma gota de tinta cai
Corrompendo a superfície
Cândida, trocista…
Observo-a, enquanto é absorvida
Tornando-se numa só,
Fundindo-se com o pedaço de papel
Não mais branco…
E desafio aquele olhar
Enquanto a minha mão desliza
Sobre aquela superfície lisa
E recordo-me
Palavras que sempre quis escrever
Presas na jaula da mente
Saltam-se, respiram,
Ganham vida e forma,
Sorriem e choram
São felizes num verso
Para serem tristes no outro
Uma rima mal feita
Uma quadra que se tornou terceto
Mas sentimento puro
Em cada sílaba métrica não intencional
E no fim, olho atónita
Aquela página, outrora branca
Agora esborratada…
Sorrio…
Afinal sempre consegui que
As palavras ganhassem vida num poema
Mesmo sem o sopro das musas…
06/02/2011
PerlyRamos
O pecado que reside no silêncio é maior
Do que aquele que se solta na palavra.
O silêncio, dourado, imutável, inoxidável
Assim torna as coisas belas guardadas na alma.
O pecado do silêncio aprisiona o Ser
Da mesma forma como um pardal
Perde o canto numa gaiola.
O pecado do silêncio é enganador
Segurança dissimulada, barreira frágil.
Nunca encontramos abrigo, e nesta busca
Perdemos o caminho num labirinto –
Palavras murmuradas para o muro nu
Da cidade de multidões.
O pecado do silêncio torna-nos invisíveis
Imutáveis, seguros, inoxidáveis.
Incapazes.
E a vida é um sonho acordado.
Perly Ramos
2/04/2012
No céu formou-se um abismo enquanto o cão perseguia uma borboleta. E a bruxa, com o seu sorriso escarninho e face demoníaca ria alto.
As sombras vão e voltam, o tempo passa, o vento sopra e ela corre. Corre, corre, ri e brinca.
Corre descalça e despenteada. Tem o cabelo enfeitado de diamantes e partilha o piquenique com os pássaros. Morangos, tangerinas, uvas e maçãs. Bolos e cerejas, limonada fresca!
O sol multiplica-se e cada novo sol tem mil cores que se replicam nas gemas e no cabelo dela, que ondula ao sabor da brisa suave.
É uma explosão de luz em forma de bolhas de sabão, que deformam a paisagem que se torna ora estreita, ora tão larga quanto o mar.
Lá em baixo, as sereias acenam e seduzem marinheiros e pescadores despercebidos, com as suas vozes que cantam na língua dos peixes.
Enquanto a vida corre, as estrelas fazem desenhos no céu e pintam a memória de heróis e lendas.
Perly Ramos
25/05/2012